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Rebeldia na adolescência: um pedido de ajuda

Atualizado: 4 de ago. de 2020



Em tempos em que um jogo tem levado diversos adolescentes a tirarem a própria vida e uma série de TV aborda o suicídio como tema central, muitas pessoas estão fazendo textos a respeito do jogo, da série e do suicídio em si. Então me proponho aqui a falar do outro lado da moeda, do lado de lá dessa corda: dos adolescentes, de como essa é uma fase trágica e difícil da vida e de como esses jovens estão desamparados, enfrentando sozinhos (ou tentando) os seus sentimentos.

A adolescência é a fase compreendida entre a infância e a idade adulta. É o momento em que o jovem fica perdido entre ser muito novo para algumas coisas e não ter idade suficiente para outras. E justamente por ser um período de transição, que envolve grandes mudanças, é um dos momentos mais difíceis da vida.

Hoje vivemos uma realidade em que os jovens (e muitas crianças) têm cada vez mais coisas materiais e menos contato íntimo com a família e os amigos. É um excesso de presentes, eletrônicos, jogos que não suprem a necessidade de atenção e presença física que esses jovens sentem. Pelo contrário, só fazem aumentar o vazio de sentido que existe em suas vidas (e que é próprio da adolescência), e a consequência disso é a busca por reconhecimento entre eles, jovens, mesmo que isso envolva riscos.

Os adolescentes vivem esse período com muita intensidade e um turbilhão de sentimentos que nem sempre (quase nunca) compreendem, e essa dificuldade de nomear isso tudo faz com que se afastem dos pais, com que sintam-se incompreendidos pelos “mais velhos”. O problema é que quanto mais o adolescente se afasta, mais os pais o julgam difícil e mais se afastam. Esse é um momento muito delicado, que requer muito tato, principalmente dos pais.

Em seu isolamento, os adolescentes buscam por aprovação e reconhecimento dos grupos de sua idade, e, para isso, muitas vezes põe em risco suas vidas. Abuso de álcool e drogas, automutilação, excesso de velocidade, comportamento violento, vida sexual irresponsável, são apenas alguns exemplos do que eles podem fazer para serem aceitos.

Com uma carga de trabalho cada vez mais intensa, os pais não conseguem acompanhar de perto a vida dos filhos, tornando-se cada vez mais ausentes. Isso provoca o aumento do vazio que é vivido por esses jovens, e cria um sentimento de desamparo, que é vivido com desespero.

Mas como dizer aos pais que eles fazem falta? Como esses jovens vão dizer que estão carentes, precisando de atenção, carinho, presença (e não presentes)? É tão brega... Pois é, eles não dizem, e nem sempre é porque não querem. Muitas vezes apenas não sabem como. E os pais normalmente não estão atentos a isso. Não que seja culpa deles.

Com isso os jovens buscam cada vez mais preencher esse vazio com atitudes que já foram citadas. Mas quando essa confusão de sentimentos se torna insuportável demais, o adolescente dá um grito, pedindo por socorro: overdose, coma alcoólico, acidentes por excesso de velocidade ou dirigir embriagado, tentativa de autoextermínio. Sim, são pedidos de ajuda. Normalmente encarados como rebeldia, esses são comportamentos que muitas vezes indicam um pedido de socorro. Nesse momento é preciso acolher, conversar, entender, não julgar ou condenar. Levar a um psicólogo, ajudar o adolescente a entender o que se passa com ele mesmo, nomear os sentimentos.

Com o avanço da tecnologia e da comunicação, sempre haverá pessoas que se aproveitarão desse momento delicado que é a adolescência. Criando “jogos” e fazendo desafios cada vez mais perigosos com a falsa promessa de “aceitação” em um grupo, uma comunidade, que tem como objetivo fazer aumentar esse vazio já vivido por eles, até que já não se possa mais lidar com ele, e assim tirar a própria vida. O adolescente não suporta ser desafiado, mesmo que isso inclua perder a vida.

Já foram vários os desafios lançados: desafio de causar parada cardíaca executando alguns movimentos; desafio de se enforcar ao vivo na internet por perder um determinado jogo; desafio da borracha (automutilação); e o mais recente jogo da “baleia azul”. Esse jogo vai acabar, assim como todos os outros, mas não se enganem: outros virão. E sempre virão, porque os adolescentes não estão encontrando o apoio que precisam dentro das suas casas, então vão buscar em outros lugares.

Atenção pais: acompanhem de perto a vida dos seus filhos, controlem o acesso às redes sociais e à internet no geral, deem carinho, atenção, conversem, sejam presentes. É claro que os adolescentes vão reclamar, achar brega, chato, mas não desistam, eles precisam disso (e anseiam por isso). Eles não sabem ao certo o que sentir em relação aos pais, querem ser independentes e descolados, mas precisam da participação e apoio dos pais, e no fundo sabem disso, mesmo que não admitam.

Lutem pela vida de seus filhos, não deixem que pessoas ruins os tomem de vocês. Procure ajuda se for preciso, mas não tome o comportamento de seu filho como rebeldia. Ame-os com tudo o que tem. Eles os agradecerão mais tarde. E entendam: esse texto não é para acusar os pais de não darem atenção aos filhos, não é para colocar a culpa neles. É para pedir que não desistam e que continuem, cada vez mais de perto, a acompanhar a vida os filhos. Os adolescentes irão fazer disso uma tarefa difícil (por vezes quase impossível), mas persistam, mesmo com a dificuldade que é colocada pela carga de trabalho. Não se trata de apontar culpados, se trata de melhorar as relações entre pais e filhos, no geral.


Raisa Cristine de Freitas Faria

CRP 04/47961

Psicóloga Clínica

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